top of page

Veneno, meu companheiro, Darks Miranda

Darks Miranda é a entidade da artista, cineasta, e performer cearense Luisa Marques. Seus trabalhos misturam cinema experimental, esculturas, pinturas, desenhos e instalações que evocam a falência do projeto modernista brasileiro concomitante ao esgotamento do modelo produtivo do liberalismo global em países periférico e o legado deixado em forma de detrito ambiental, cultural, social, histórico, econômico e político. A precariedade e transitoriedade da vida periférica, assim como seu impulso destruidor do meio ambiente, ganham formas e matérias ambíguas na construção de um Novo Mundo (sic) paralelo às cadeias produtivas, marcado pela destruição, inspirado na ficção científica dos anos 1960 e 1970 com seus ambientes fantásticos e poluídos, produtores de seres fantasmagóricos, monstros e claro, barrocos.

 

Em Veneno, Meu Companheiro, título retirado da letra da música Frevo Mulher do cantor e compositor Zé Ramalho, o “Bob Dylan” brasileiro, as imagens fantásticas, de cores fortes, natureza agreste, mas exuberante, misturados a fé, ao amor, ao canto se revelam indeterminadas e sempre movediças, não permitindo o entendimento do todo que move o mundo. A lista de materiais das obras apresentadas por Darks já é um índice desse mundo misterioso e tóxico: gesso, juta, bastão, spray, resina, pigmento, pinus, látex, coroa de abacaxi, uvas de plástico, estopa, poliuretano e o mineral bronze entre tantos outros, revelam um meio de produção alquímico e carnavalizado. 

A própria entidade Darks Miranda, a imagem invertida no espelho de Carmen Miranda, uma mulher que deixa de ser ela mesma para se tornar uma imagem do Brasil exótico, tropical, mulher fruta e símbolo de uma identidade nacional projetada em Hollywood no auge do cinema americano como arma cultural de colonização, símbolo do sucesso e do fracasso, é a própria representação ambígua das “conquistas” modernizantes. Como Darks, Luisa incorpora no próprio corpo as questões da feminidade brasileira como expressão do exótico num universo profundamente marcado pelo macho branco imbricado no projeto dominador moderno. 

 

Com um universo plástico que flerta com o belo, com o tropical, com o exótico, mas atravessado pelo poluído, pelo que há de movediço e ambíguo, um belo que é crítico do próprio belo, Darks Miranda questiona o mundo que estamos constantemente construindo e destruindo, do movimento da história e as estruturas ideológicas de poder que movem a nossa existência.

 

Ricardo Sardenberg

Curador

bottom of page