Raio Verde, Giulia Puntel

É com muita alegria que anunciamos a primeira individual da Giulia Puntel, Raio Verde, no Projeto Vênus.

Em suas 14 obras divididas entre pinturas, esculturas, vídeo e colagens, o que podemos observar é a persistência da pintura ponto de partida para a experimentação. A lógica alcança seu ponto no máximo no vídeo Caracol. Uma animação de 2 minutos 41 segundos, retratando uma espécie de dia na psicodelia, inteiramente criado em 42 folhas com 20 frames cada perfilando um total de 840 frames inteiramente pintados a óleo. Uma espécie de pintura em movimento que também podemos encontrar nas 4 esculturas que se parecem com estruturas do gesto obsessivo de enrolar arames com matérias como elásticos, papel machê, gessos etc que ligam diversas patas de tinta que insinuam um caminhar, ou melhor, elas praticamente rastejam pela galeria. 

Finalmente, as pinturas em si. Nas de pequeno formato vemos colagens com materiais diversos que ora encobre a pintura como um véu em Presa, ora uma colagem de um simples isopor verde transforma a tela numa paisagem onde se vê o misterioso raio verde que dá título a exposição. Um certo humor se revela nos trabalhos. São telas criadas como se fossem brincadeiras científicas no microscópio. Já nas grandes telas o imperativo é a força do corpo explorando a potencialidade gestual do largo território da superfície. Um exercício cromático que flerta com figuras imaginárias que sugerem uma exteriorização do inconsciente. 

Raio Verde é um mitológico fecho de luz esverdeada que supostamente vemos no último raio de sol, ou no primeiro, antes de respectivamente desaparecer ou surgir no mar. É nesse lugar de início e fim da marcação de tempo que com pinturas, esculturas e vídeo de animação, Giulia Puntel expande sua experimentação plástica em novos territórios onde a natureza e o artifício se encontram em um estado lírico de psicodelismo. Suas telas e esculturas são a concretização de pensamentos e sensações da artista diante da vida ritualizada no atelier. Em outras palavras, as obras são a materialização psicológica dos gestos realizados no estúdio a partir de suas vivências no mundo. O universo de gestos, de cores e de formas são conduzidos, ou traduzidos, não por uma racionalidade, mas por uma ética da artista diante de materiais ou modos de produção. Questões como figuração ou abstração estão mergulhadas na ambiguidade movediça do estado natural e artificial da arte.

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Ricardo Sardenberg

​São Paulo, 2022