top of page

Apocalypse now: são tantos apocalipses

Notas para Apocalypse now: são tantos apocalipses

 

A vertigem é que talvez o apocalipse seja um espetáculo em câmera lenta. Talvez não seja uma grande explosão final, mas algo que se desdobra, multiforme, no tempo, e que talvez nunca nem se quer cheguemos a vê-lo propriamente dito, mas apenas possamos senti-lo, intuí-lo, e de vez em quando pequenos marcadores o torne mais vivo, mais próximo de todos, mais presente: uma pandemia, uma onda de calor, uma onda de frio, uma queimada, uma horda de pessoas destituídas linchando uma minoria, um acidente nuclear, uma tsunami sem terremoto, a fome, a guerra e a peste, a opressão das milícias, o autoritarismo filho da ignorância e do medo, o colapso sucessivo e a conta gotas de toda a trama social. Talvez o apocalipse não esteja no futuro, quando a temperatura global média subir mais 1 grau célsius. Talvez o apocalipse seja a apoteose do presente, o agora, o “now”. 


Apocalypse Now: são tantos apocalipses, não procura imaginar o como viver junto depois de um apocalipse indeterminado no futuro. O Brasil de hoje é um projeto apocalíptico colonial de destruição dos corpos e das subjetividades. Não existe negacionismo no Brasil, o que ora se implementa é um projeto intencional de capitalismo predatório de apropriação de todos os recursos da terra até sua exaustão total para lucro imediato de alguns criminosos. Não é negacionismo, é intencional e é projeto. Não se pode, e nem se deve retirar o agenciamento dos cleptomaníacos racistas autoritários.

As ruínas já estão aqui e a estamos vivendo de forma cinematográfica, carregando nossas próprias produções nos pequenos celulares, carnavalizando nossas vidas em pequenas festas narcísicas, não para negar a destruição, mas como que mergulhados no choque da imensidão e variedade de apocalipses que nos circunda e que penetra nossas subjetividades diariamente. Fatiados em nossos pequenos mundos, no entanto, podemos sentir o medo, a vertigem, a sensação de que aquele evento final está por ocorrer. Mas talvez ele nunca venha a ser, talvez ele já é, e a única forma de encará-lo, nesse início, é a ficção. Talvez, talvez, talvez... 

 

De concreto o que temos, como disse Rafael Bqueer: o que se passa na Amazônia é sempre o ontem, o hoje e o futuro. 

 

Artistas participantes: Adriana Coppio, Adriano Costa, Arthur Leandro, Arthur Palhano, assume vivid astro focus, Camile Sproesser, Darks Miranda, Diambe, Felipe Barsuglia, Guerreiro do Divino Amor, Gokula Stoffel, Ilê Sartuzi, Matias Oliveira, Nuno Q Ramalho, Rafael Bqueer, Renato Pera, Tiago Carneiro da Cunha, Vulcanica Pokaropa, Yan Copelli.

Co-curadoria de Rafael Bqueer e Ricardo Sardenberg

bottom of page