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Matias Oliveira, Matias Oliveira

Matias Oliveira é um pintor na definição mais ampla do termo. Quando o conheci há quase dez anos, ele estava ajudando seu amigo Paulo Pjota com uma pintura em grande escala em um vasto espaço de arte recém-inaugurado no centro de São Paulo. Matias e Pjota foram as primeiras pessoas a ocupar o Pivô como um estúdio. Alguns meses depois, Pjota seguiu seu rumo, mas Matias ficou para trabalhar com um segundo ocupante daquele espaço ainda praticamente vazio, Rodolpho Parigi. Alguns meses depois, Rodolpho também concluiu sua estada e Matias ficou novamente, agora como membro da equipe do Pivô, um papel que ocupou por muitos anos antes de - finalmente! - voar sozinho como artista (eu o venho provocando há bastante tempo). O trabalho de Pjota e Parigi não tem nada em comum além do fato de que ambos são conhecidos por suas composições idiossincráticas e virtuosismo. Acredito que as cenas metalinguísticas de Oliveira poderiam ser facilmente inscritas nesta linhagem. 

 

Em paralelo ao seu trabalho como montador de arte e pintor de parede e suas incursões noturnas espalhando seu nome de rua "Farsa-ma" pela cidade como um pixador, ele manteve, como um diário particular, uma prática de pintura impressionante fora das instituições de arte e do mercado. Suas pinturas são crônicas do cotidiano de uma exposição em construção a partir do olhar de alguém que estava sempre no backstage. No entanto, não há nenhum tipo de cinismo ou deboche com a "figura do pintor-estrela" (pensando aqui no filme icônico de Paul McCarthy "Painter"), mas sim comentários bem-humorados sobre o que significa ser um pintor no campo expandido do termo. Em resumo, seu trabalho é basicamente autobiográfico, porém sem solipsismo- risco frequente deste tipo de abordagem. Na exposição, acompanhamos o cotidiano de uma espécie de alter-ego tresloucado do artista. Seu corpo se contorce e gira para alcançar os cantos mais recônditos das paredes curvadas e pilares do edifício modernista em que ele costumava trabalhar todos os dias.

Acho que a força do trabalho de Oliveira vem de escolhas materiais despretensiosas (sobras de compensado de madeira e tinta de parede) e da intimidade do artista com seu assunto: pinturas sobre o ato de pintar como uma ocupação qualquer. O trabalho meticuloso e ao mesmo aparentemente casual de Matias Oliveira, é permeado por uma inquietude. É como se ele – ou seu personagem- estivessem sempre em busca de alguma coisa, mas o quê? Um significado para aquela situação? Algum tipo de respaldo? Isso permanece incógnito. A vida de qualquer pintor é, sem dúvida, turbulenta, marcada pela instabilidade e pela dúvida. Neste sentido, o trabalho de Matias Oliveira nos lembra que a batalha diária de todos nós não é tão diferente da batalha de um artista com uma tela em branco ou a busca do trabalhador autônomo pelo próximo cheque. 

Fernanda Brenner

São Paulo, novembro de 2022.

 Projeto Vênus  - Tv. Dona Paula, 134

Higienópolis, São Paulo - SP

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